Comparar os campeões de vendas de BMW e Mercedes-Benz é uma tarefa semelhante à de um árbitro apitando Corinthians x Palmeiras. É preciso encarar fanáticos cuja paixão frequentemente obstrui a razão. A rivalidade passional também envolve carros, sobretudo quando se fala de duas marcas tão tradicionais.
Separadas as torcidas, é hora de apresentar os concorrentes. De um lado o novo BMW 320i, versão mais em conta do Série 3, que chegou ao Brasil no fim de 2012. A marca não dispunha de modelo para avaliação, então recorremos à loja Multi Zero Automóveis, de Santo André (SP), que nos cedeu o veículo. No outro corner, o C 180 Sport, configuração de base do Classe C, cuja geração é do início de 2007. A linha 2013 estreia um coração novo, menor, mas de mesma potência. Saiu o 1.8 e entrou o 1.6, que preservou os 156 cv e o torque de 25,5 mkgf. Em cinco anos, é a terceira intervenção cardíaca no sedã. Trocou o compressor mecânico (lembra do Kompressor?) pela turbina, ganhou o selo BlueEfficiency - após uma série de modificações mecânicas - e agora entra na era do downsizing.
O Classe C estreou em 2007 com linhas sóbrias e direito a uma estrela de três pontas destacada no capô, mas o ornamento foi rejeitado e caiu em desuso. A partir de agora, nada de visual comportado. O C 180 vestiu os trajes esportivos da AMG, até então restrito a partir do C 250. Agora mesmo o Mercedes "básico" passa a utilizar o kit composto de novos para-choques, spoilers e rodas das versões mais caras. Só um probleminha: os novos sapatos têm números diferentes. Usa pneus 225/45 R17 na dianteira e 245/40 R17 na traseira. Como nem o carro nem o cliente são desportistas federados, seria mais prático adotar medidas iguais nos eixos.
A recente troca de motor visa mais uma vez à redução de consumo e ao aumento de eficiência energética. Nesta fase o C 180 passa a contar com o start-stop, tecnologia que desliga automaticamente o motor em paradas superiores a 3 segundos. É um recurso que se espalhará por toda a linha. Os dois sedãs utilizam o sistema e ambas as fabricantes querem afastar a imagem de vilãs da ecologia. No entanto, a Mercedes carregou a mão na redução dos motores. Ela se rendeu ao visual esportivo, mas fica aquém do fabricante bávaro quando a roda de discussão começa a falar sobre desempenho.
O BMW tem um motor 2.0 turbinado de 184 cv e comportamento de esportivo que faz jus à marca e ao preço adicional que se paga pela tradição do logotipo azul e branco.Você pode argumentar que isso significa um compromisso menor com o consumo, certo? Em nossas medições, o C 180 fez 10,9 km/l na cidade, contra 10,8 km/l do BMW. Na estrada, o sedã de Stuttgart marcou 15,9 km/l, enquanto o dromedário de Munique fez 18,3 km/l. Bebe menos que carro 1.0 e anda mais de 1 000 km sem reabastecer. Uma das explicações para a inapetência do Série 3 é utilização combinada de tecnologias voltadas para o aumento de eficiência dinâmica. Seu motor de alumínio é dotado de abertura variável de válvulas, injeção direta de combustível e turbocompressor direcionado. Cuidado com o nome TwinPower Turbo, pois não se trata de duas turbinas, mas de um sistema de tubulação capaz de dividir os gases de exaustão em galerias distintas.Ao captar o fluxo de gases no escape, parte é utilizado para baixas rotações, enquanto outro tubo atua em altas velocidades, reduzindo o lag. Além disso, é o único da categoria com transmissão de oito velocidades, permitindo melhor aproveitamento do torque. Quando o motorista quer economizar, a caixa faz trocas antecipadas e em baixa rotação. Na última marcha, e em velocidade de cruzeiro, o giro fica abaixo dos 3 000 rpm.
A Mercedes utiliza uma caixa de sete marchas cujo mérito é ser suave e progressiva, só que, mesmo quando o modo esportivo é acionado, continua trabalhando dessa forma. Isso rendeu uma bela diferença nas provas de retomada. Entre 60 e 100 km/h, o BMW marcou 4,1 segundos, enquanto o Mercedes registrou 5,4. Entre 80 e 120 km/h, a diferença foi de 2 segundos.
Eles se equivalem em capricho no interior, com ligeira vantagem para o Mercedes. Sem versões ou opcionais, o C 180 tem regulagens elétricas parciais no banco do motorista. O ajuste longitudinal é manual. Há o Attention Assist, que monitora as reações do condutor e identifica possíveis situações de cansaço, mas não há o trivial sensor de estacionamento. Não é fácil escolher o 320i ideal, pois não há versões, mas pacotes de equipamentos que fazem o preço oscilar entre 129 950 e 159 950 reais.
Até 2012, o Classe C custava 114 900 reais, mas subiu para 139900 em 2013. É um preço alto demais quando se vê, por exemplo, um Fusion e um Azera oferecendo mais por menos. Desde, é claro, que tradição e carisma não entrem na conta.
BMW 320i
DIREÇÃO, FREIO E SUSPENSÃO
Tem direção direta e, apesar da assistência elétrica, não é macia demais. Freios e suspensão favorecem a esportividade.
MOTOR E CÂMBIO
O conjunto supera o rival em todos os aspectos. o carro é mais forte, mais rápido e, surpresa, mais econômico.
CARROCERIA
Tem belas linhas, mas não se destaca. Se o visual não impressiona, também não cansa.
VIDA A BORDO
Embora o Mercedes agrade mais à vista, o BMW vence pelo tato. Usa materiais macios e bancos envolventes, mas o conforto é para quatro. o quinto passageiro não vai gostar do posto.
SEGURANÇA
Completo desde a base, tem airbags frontais e laterais, cintos pré- tensionados, controle de estabilidade e faróis de xenônio.
SEU BOLSO
Embora custe mais, tem motor mais forte e lista de equipamentos mais longa. além disso, não abusa no consumo. Tem números equivalentes aos de motores 1.0.
Mercedes C180
DIREÇÃO, FREIO E SUSPENSÃO
Tem um quê esportivo, mas claramente favorece o conforto e a maciez de rodagem.
MOTOR E CÂMBIO
Embora fique atrás do BMW, não pode ser menosprezado. Seu conjunto é robusto, trabalha em silêncio e garante acelerações fortes para um 1.6.
CARROCERIA
Mais caprichada quea do BMW, tem traços elegantes e vincos mais bem trabalhados, mesmo com cinco anos no mercado.
VIDA A BORDO
Trata bem os ocupantes, mas há sedãs mais em conta que não ficam atrás. Fusion, azera e Passat, nessa ordem, oferecem mais conforto por preço inferior.
SEGURANÇA
Impecável neste quesito, inclui controles eletrônicos que atuam em cada roda e conta com função "hold", que segura o carro parado no trânsito mesmo quando o motoristatira o pé do pedal.
SEU BOLSO
Os Mercedes têm um valor intrínseco difícil de mensurar, mas na ponta do lápis ele fica devendo pelo que custa. Façaas contas ou sigasua paixão.
VEREDICTO
Custo-benefício não é o forteda dupla, sobretudo no caso do C 180, cujo peso da marca onera o preço sem oferecer uma lista de equipamentos farta. O BMW se justifica pela mecânica forte, pelo conjunto mais refinado e prazer ao dirigir superior. O Mercedes conta com um público cativo e fiel, mas não é a única estrela a brilhar no firmamento.