A menos que seja um maníaco por BMW ou tenha como passatempo preferido identificar diferentes versões de um mesmo modelo observando os detalhes, dificilmente alguém conseguirá reconhecer a nova geração do BMW Série 3 examinando a lateral ou a traseira. Desses pontos de vista, a impressão é de que o Série 3 não mudou. Na lateral, há um ressalto na base das portas e a saia ficou lisa. Na traseira, as lanternas são ligeiramente menores, enquanto os para-choques ganharam luzes auxiliares. Mas você conseguiu reparar?
Essa discrição tem a ver com a preocupação das fábricas em manter características que reconhecidamente agradam ao público, principalmente quando se trata de compradores conservadores como são os dos sedãs de luxo. Felizmente, esse cuidado não se aplica a todo o projeto. O Série 3 mudou na dianteira (com faróis que se esticam até a grade central), no interior (com os novos painel e bancos) e evoluiu bastante tecnicamente.
A carroceria cresceu 9,3 cm na distância entre os eixos, o que favoreceu o espaço interno, principalmente para os ocupantes do banco traseiro. A transmissão agora tem oito marchas, para aproveitar melhor a força do motor. E sua gama de motores merece um parágrafo à parte.
No Brasil, haverá três opções: duas 2.0 de quatro cilindros, com potências de 184 e 245 cv, e uma 3.0 de seis cilindros, com 306 cv. A versão avaliada nesta edição é a intermediária de 245 cv. Apesar do deslocamento reduzido, esse motor gera mais potência que o antecessor 3.0 de seis cilindros que equipava a versão 325i, com 218 cv. Seus projetistas compensaram o menor deslocamento com a aplicação de tecnologias como injeção direta e turbo twin-scroll - com coletores independentes para cada par de cilindros, que favorece o funcionamento em baixas rotações -, além de comando de válvulas e coletores variáveis.
O 328i demonstrou essa evolução técnica com um rendimento surpreendente na pista de testes. Nas provas de aceleração, ele fez de 0 a 100 km/h em 6,3 segundos. Nas medições de consumo, por sua vez, obteve as médias de 10,4 km/l no ciclo urbano e 16,2 no rodoviário. Como comparação, um sedã como o Hyundai Sonata, 2.4 16V aspirado, acelerou em 10,1 segundos e ficou com as médias de 8,2 e 11,8 km/l, respectivamente.
Para conseguir esse desempenho, o motor do BMW contou com a ajuda de um dispositivo eletrônico que também é novidade na Série 3.Trata- se do Driving Experience, um sistema que permite ao motorista ajustar o comportamento do carro de acordo com a situação de uso ou com suas preferências pessoais. São três modos possíveis: Eco Pro, Comfort e Sport, que alteram as respostas do acelerador, do motor, da direção, do câmbio, dos amortecedores e do controle eletrônico de estabilidade. Nas provas de aceleração e retomadas, optamos pelo modo Sport. Quando fomos medir o consumo, selecionamos a opção Eco Pro.
No que diz respeito ao comportamento da direção e da suspensão, o modo Sport é muito mais divertido e identificado com o que estamos acostumados a sentir ao volante de um Série 3, ou seja; um sedã com alma esportiva. No Comfort, o 328i roda com suavidade, o que pode ser agradável em algumas horas. Mas, numa tocada mais calorosa, essa calibragem deixa a carroceria oscilar ao sabor dos estímulos do piso e do volante, o que chega a comprometer a dirigibilidade. De qualquer modo, ponto para a BMW, que se superou ao reunir em um mesmo carro características antagônicas como esportividade e conforto, em doses maciças.
A fábrica também adequou o acabamento do carro ao gosto dos clientes. Para o mercado europeu, existem três estilos: Sport, Luxury e Modern. E para o Brasil, além desses pacotes, há outras duas versões: básica (mostrada aqui) e Plus. A diferença entre as três primeiras está em detalhes. Na Sport, há aletas pretas e revestimento de alumínio escovado. A Luxury exibe frisos cromados e painel de nogueira. E a Modern reúne alumínio acetinado com madeira clara. As "nacionais" básica e Plus se identificam mais com a Sport, mas com menos ornamentos. Toda a linha é bem equipada. A 328i, que custa 171 400 reais, traz câmera de ré, piloto automático adaptativo, bancos de couro, seis air-bags, faróis bixenônio, teto solar e rodas de liga leve de 17 polegadas. A top 335i Sport, por 294 950 reais, tem faróis direcionais, head-up display, internet, controle eletrônico de estabilidade com 18 funções e dispositivo de abertura de porta-malas (basta aproximar o pé de um sensor localizado sob o para-choque). A nova geração do Série 3 terá nove versões no Brasil, enquanto na anterior havia apenas três. Se você gosta de testar seus conhecimentos automobilísticos quando vê um carro na rua, eis aqui um bom desafio.
EVOLUÇÃO EM SÉRIE
O Série 3 é o BMW mais vendido de todos os tempos. Desde sua estreia, em 1975, até hoje, a fábrica comercializou mais de 12 milhões de unidades em 130 países.
1962
Tudo começou com o modelo 02 (acima), um sedã compacto de grande sucesso em sua época.
1975
O projeto do novo carro se revelou tão evoluído que a fábrica decidiu mudar o nome para Série 3.
1982
Apresentou as versões sedã de quatro portas, perua, conversível e esportiva M (foto).
1990
Seu design ousado, elegante e bonito fez escola. Ganhou versões cupê e hatch.
1998
Foi o terceiro em vendas na Alemanha, considerando todos os segmentos do mercado.
2005
Recebeu motores mais eficientes, com novos materiais, injeção direta e turbo.
OS RIVAIS
Mercedes C 250 Turbo
Equipado com motor de quatro cilindros 1.8 de 204 cv e câmbio de sete marchas, este custa 205900 reais.
Audi A4
Por 183 500 reais, o A4 tem motor 2.0 TFSi de 211 cv, câmbio automático de sete marchas e tração integral.
VEREDICTO
Como o visual sugere, o Série 3 ficou mais refinado tanto em estilo e acabamento como tecnicamente. O motor perdeu dois cilindros, mas mostrou rendimento superior. O cliente tradicional só pode reclamar do ronco, menos encorpado. Nada mais.